Pedagoga Benedita Frazão, psicólogo Rodrigo Oliveira e pediatra Joana Portela participaram do debate sobre o tema
Foto: Miguel Viegas |
Segundo pesquisas divulgadas ano passado, os brasileiros passam mais da metade das horas em que estão acordados diante de telas, o que torna o Brasil o segundo do mundo que mais gasta tempo em frente a celulares, TVs, Tabletes e computadores.
Os efeitos desse uso excessivo de telas, especialmente na infância e na adolescência, as consequências físicas, emocionais e psicológicas que podem provocar na vida de crianças e adolescentes foram, entre outras, as questões levantadas e discutidas pelos debatedores.
Relevante
Benedita Frazão considera o debate do tema muito relevante e que se vive numa sociedade que não tem como desvincular do uso de telas. “O maior problema não está no uso excessivo, mas no cuidado que a gente precisa ter sobre como usá-las. Elas são ferramentas necessárias, mas estamos nos tornando dependentes do seu uso. A gente fala de crianças e adolescentes, mas acho que tem que entrar o adulto porque ele é o modelo. O adulto é que tem que monitorar e orientar quanto ao uso dessas telas”, defendeu.
Para Joana Portela, é fundamental focar os cuidados no uso das telas no período da primeira infância porque é nessa fase que se forma a estruturação do corpo mental onde existem essas conexões nervosas. “Que nada mais são do que os estímulos nervosos que transmitem a sensação da memória e das habilidades para dentro do cérebro. Então o efeito negativo pode acontecer, até porque na infância e adolescência o indivíduo ainda não tem o discernimento para fazer escolhas saudáveis dos conteúdos das telas. Por isso, a necessidade da vigilância de um adulto responsável”, esclareceu.
Rodrigo Oliveira ressaltou o quanto é difícil se supervisionar o uso das telas uma vez que o adulto responsável também está imerso nessa lógica. “Então, como o responsável pode disciplinar o uso das telas quando ele mesmo não consegue dissociar do que é seu trabalho, seu lazer. Acho que é uma questão que vai além do próprio controle das horas utilizadas. Acho que é também um convite para os pais ou responsáveis se examinarem e se questionarem”, argumentou.
Desafios
Segundo Benedita Frazão, as telas agregaram muito para o contexto educacional, mas se precisa saber utilizá-las de forma produtiva. “Esse é um ponto de preocupação. A gente traz um sistema novo, mas quem o utiliza ainda não está suficientemente capacitado para usá-lo. As telas permitem conhecer o mundo. Percebemos comportamentos diversos sobre o uso das telas. Elas potencializam a aprendizagem, mas também geram atitudes prejudiciais ao processo de ensino aprendizagem como, por exemplo, a introspecção, que gera dispersão”, advertiu.
Para Rodrigo Oliveira, o uso das telas sem o devido monitoramento por parte dos responsáveis pode gerar um déficit no desenvolvimento das habilidades. “É uma pegadinha e um contraponto a muitas vantagens que o uso das telas pode oferecer, como a superação de certos bloqueios”, afirmou.
Joana Portela reconhece que a pandemia da Covid-19 acelerou a evolução tecnológica, principalmente dentro do lar. “O período pandêmico não trouxe tantos danos físicos e patológicos às crianças. Mas, o período pós pandêmico, sim, trouxe grandes mudanças e desafios. Por isso, que a gente consegue perceber que o uso excessivo pode trazer o que a neurociência denomina de estresse psicológico ao ponto de trazer consequências ao sistema neuroendócrino com a produção excessiva de hormônios, que gera mudanças comportamentais”, destacou.
Recomendações
“A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Organização Mundial de Saúde (MS) recomendam a não apresentação de telas até dois anos, devido ao efeito negativo que gera nessa faixa etária. Mas, orienta a utilização saudável, na idade de 2 a 5 anos, pelo menos até uma hora por dia. E, acima dessa faixa, de seis anos até a adolescência, se recomenda o uso, ao máximo, até duas por dia”, revelou Joana Portela.
“Falamos e debatemos algo que atinge todos nós. Não é tão simples a gente se desconectar da rede. Para se fazer isso, talvez as consequências a médio e longo prazos, podem compensar. Mas a dependência tecnológica está muito próxima de outras como, por exemplo, o alcoolismo. Temos sempre que, no uso das telas, administrar ganhos e perdas”, salientou.
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