O governador do Maranhão, Flavio Dino, desponta como uma das lideranças da esquerda brasileira. De fato, fez feito inédito ao derrotar a família Sarney nas últimas eleições, polarizando no estado a esquerda e a direita.
Em entrevista para a Carta Capital (http://bit.ly/39gIlNy ) publicada dia 24/12/19 parece menosprezar a disputa ideológica travada no Brasil e no Mundo ao afirmar que o bolsonarismo é “chuva de verão”, sendo mais um que confunde ideias e valores com seus porta-vozes de plantão.
Em dada passagem Dino caracteriza o bolsonarismo como “corrente política governa para poucos, prioriza a violência e isola o Brasil no cenário internacional”. Diz que Bolsonaro é uma figura datada, logo ambos perderão relevância. Despreza a hipótese de termos outras lideranças expressando e liderando o bolsonarismo.
Na mesma entrevista indica que abandonou a linha política de polarização que adotou em seu estado e defende que é preciso “buscar alianças e consensos” para 2020, e nas entrelinhas para 2022. Ao fim e ao cabo é mais um que trata a conjuntura brasileira como em normalidade institucional, desprezando o golpe iniciado em 2016 e a instabilidade da democracia liberal no Brasil.
Alianças e consensos no abstrato não dizem nada. Qual consenso e com quem se quer fazer aliança? Seria o consenso de entregar a base de Alcantara aos EUA e a aliança com a direita e a ultradireita no Congresso Nacional (https://www.pagina13.org.br/pc-do-b-e-uma-contradicao-chamada-base-de-alcantara/)? Depois fala em “amplitude” nas alianças, novamente alianças desprovidas de conteúdo programático e ideológico.
Com este tipo de posição política não é de se espantar que na entrevista Flavio Dino diga que “há uma tendência da esquerda de achar que perdemos sempre por nossos erros. Às vezes são acertos alheios. É preciso entender que o outro campo também joga, também acerta. Eles conseguiram, de fato, formar uma aliança mais ampla que a nossa. A extrema-direita que hoje governa o País conseguiu, paradoxalmente, uma aliança mais ampla que a nossa. Precisamos inverter isso em 2020. Isoladamente, não se obtém vitórias eleitorais.”
O governador não usa o termo, mas na luta de classes se acerta e se erra, por óbvio. Em cada vitória e derrota se terá maior peso dos erros ou dos acertos, próprios e dos adversários. Neste trecho Dino resume tudo à política de alianças e como se ela fosse uma gincana. Não diz quais foram os acertos e erros e de qual alianças está tratando.
Outra obviedade é que “não se obtém vitórias eleitorais de forma isolada”. Com quais forças partidárias e/ou sociais Dino está defendendo uma aliança para sair do isolamento? As forças de direita que aprovaram o golpe parlamentar, a reforma trabalhista, a reforma da previdência, a prisão política de Lula? Ou seja, qual o conteúdo programático e ideológico das alianças?
Mais adiante o governador maranhense afirma que em 2019 se teve mais êxito do que o esperado no que tange a resistência às medidas do governo Bolsonaro. É uma perspectiva difícil de entender. O ano foi de avanços do neoliberalismo e retrocessos para as classes trabalhadoras. Não é razoável comemorar uma intensidade dos ataques menor do que gostariam os nossos inimigos. No entanto, não é estranho tal raciocínio para quem defende a recente entrega base de Alcântara aos EUA.
Caminhando para o final da entrevista Flavio Dino falará com quem seria a aliança desejada. Usará o apelido atual de uma parte da direita – centro. De setores da esquerda à imprensa golpista se passou a denominar partidos como DEM de centro, como se a emergência da ultradireita tivesse acabado com a direita. É com ele e seus atuais satélites que se defende a aliança para “ampliar”.
Dino diz que é preciso manter identidade, não se pode “abrir mão do nosso programa”, sem ser sectário. Afirma que os princípios básicos para as alianças devem ser a defesa da democracia, do Brasil e dos mais pobres. Cabe perguntas como: o fim da perseguição de Lula e sua liberdade se encaixa na defesa da democracia? As medidas neoliberais de Bolsonaro/Guedes/Rodrigo Maia são ataques aos mais pobres? São exemplos estruturais de que um dos lados na verdade terá que abandonar o seu programa e sua identidade para viabilizar a tal aliança que retirará a esquerda do isolamento. Aliás, debate que nem a direita apelidada de centro e nem a ultradireita estão fazendo, cada uma tem buscado o seu fortalecimento junto às classes sociais em luta na sociedade brasileira.
*Por Olavo Brandão Carneiro, é Secretário de Formação Política do PT-RJ. Do site Página 13.
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