Com tanta gente se matando por causas menores, tipo espaços de poder e dinheiro, eis que nos chegam duas notícias, uma de celebração da vida e logo em seguida outra sobre um desfecho, um grande final de uma linda história de amor.
Entre uma notícia e outra, um espaço de tempo o bastante para uma certeza, essa de que neste mundo doido ainda há gente que nem precisa ser doida para se mostrar capaz de amar.
O aquecimento global agora não só derrete geleiras nos pólos extremos do planeta. Também espalha faíscas que incendeiam florestas. As línguas do fogo fabricam cinzas até nas cidades, sujeitas aos extremos das inundações ou das queimadas.
Já os corações dos homens, poderosos ou metidos, seguem destruindo, na mesma intensidade, aquelas emoções sinceras. Os sentimentos se movem pela inveja, pela ambição sem medida e por uma infindável necessidade de dominação do mundo, seja o de terras distantes ou o da humanidade local.
Quando não há lirismo, romantismo, idealismo, mínimo que seja, perde-se a capacidade de sonhar e sem sonhos para o amanhã a vida se banaliza. Tudo vai perdendo sentido, as cores perdem influência, as flores ficam sem serventia. As datas dos calendários, os dias santos, os princípios, os valores ficam sem importância alguma, sem densidade.
É nesse momento que a intolerância vai se achegando, as pessoas vão se tornando impacientes, passam a querer tudo para agora, imediatamente, nem sempre conseguem dimensionar que tudo é esse que tanto querem, mas querem porque querem, meu pai eu quero, e nesse querer incontrolável convoca-se o vale tudo.
O vale tudo é o espancador da ética, tem horror a limites, é o capanga dos gangsteres, o escudo dos estelionatários, o guia espiritual dos falsos políticos e dos pseudos empresários, aqueles que se acercam do Estado como agenciadores de interesses da sociedade, na verdade apenas agenciadores, cínicos agenciadores dos seus próprios interesses. O vale tudo é inimigo da moral, desafeto da lei, eterno dono da sua própria razão.
Não há paz onde não há amor. Os dois, amor e paz, têm que florescer de dentro de nós para então se espraiar em essências contagiantes, em alegrias irresistíveis, em esperanças sempre verdes incensando os sonhos para o amanhã.
Adelfa Volpes, a octogenária argentina que casou com Reinaldo Waveqche, de 24 anos, não fingia felicidade. A paz do seu sorriso era de verdade. Não tinha vergonha de ser feliz. Estiveram no Brasil em lua de mel, apareceram na televisão mais como notícia bizarra. Falta de respeito com os sentimentos alheios. Todo filho de Deus, em qualquer tempo, em qualquer idade, tem o direito de amar e ser amado.
Dei o maior valor àquele casal, desproporcional na idade, visivelmente afinado. Ela cuidou dele desde quando ainda criança, sem pai nem mãe, até que chegou o tempo em que ele passou a cuidar dela.
Um dia ela falou para ele que os sentimentos transmudavam-se, estavam irresistíveis, precisavam viver de outras maneiras. Ele topou, desafiaram o preconceito, souberam dar um respeitável testemunho de vida. Ela morreu em plena lua de mel, na Espanha, de arritmia e dores no peito.
O amor venceu.
(Edson Vidigal, advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal)
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