Bristol, no sudeste da Inglaterra, é uma cidade histórica, atraente e não é de hoje, sobretudo por sua Universidade.
Na área de medicina, por exemplo, há um complexo de hospitais atuantes em pesquisas e serviços em todas as especializações.
Uns poucos brasileiros que concluíram residência no Hospital da Clinicas, em São Paulo, foram para a Universidade de Bristol como bolsistas por dois anos.
Um dos jovens médicos, chamado Euler, comprou um carro.
Ainda se iniciando no hábito de dirigir pelo lado direito, sim, o volante dos ingleses não fica no lado esquerdo como no Brasil e demais do mundo, um dia vendo à frente a faixa de pedestres pisou forte no freio quase alcançando-a.
Como se saísse do nada, um policial altão, forte, farda elegante, o aborda. Fale a verdade, foi logo avisando. O senhor não sabe que tem que guardar alguma distancia da faixa de pedestres?
O nosso brasileiro, médico ortopedista, que se especializava em traumatologia, sabia muito bem do perigo que rondou aquela freada.
Não se intimidou, aliás, nem teve porque se intimidar. O tom do policial foi ameno. Gentil. Educado.
O doutor Euler então explicou que havia chegado do Brasil há pouco tempo com bolsa de estudos da Bristol University. Sabia do risco e da falta em que incorrera. Que passaria a manter maior distância das faixas de pedestres.
O policial gentilmente agradeceu dando-se por satisfeito com as explicações do médico motorista. Não lhe pedira documento algum. Apenas a verdade na palavra. Despediu-se com votos de boas-vindas e de feliz estada na Inglaterra.
Algum tempo depois, outro brasileiro, este chamado Caetano, cantou em versos na canção London, London, a sua surpreendente admiração com a gentileza do policial num domingo em que ele, apenas um exilado compositor brasileiro, segue vagando, dando umas voltas à pé, sem direção.
Ele, o poeta, está solitário em Londres e Londres é amável assim, cruzo as ruas sem medo, enfatiza, todo mundo deixa o caminho livre, sei que não conheço ninguém aqui para dizer olá e enquanto meus olhos saem procurando por discos voadores no céu, e as pessoas passam apressadas com tanta paz, um grupo aborda um policial e ele parece tão satisfeito em poder atendê-los.
A Inglaterra então já projetava exemplos de segurança pública com cidadania. Algo que a politicalha patrona da inveja e das gestões medíocres, e sabe-se hoje, pra lá de corruptas, não deixaram que se implantasse no Rio de Janeiro. Nem no Maranhão.
Sim, muito, muito depois das ondas tsunamis de medo que foram se apossando e ainda se apossam das mentes pouco sadias no mundo, houve aquela melecada do policial na estação do metrô num subúrbio de Londres, que encagaçado de medo, achando que o jovem barbudo de mochila no ombro fosse um terrorista das arábias, abateu-o covardemente com um tiro de pistola.
E era um brasileiro chamado Jean Charles, cuja história já foi contada até no cinema.
(Edson Vidigal, advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal)
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quinta-feira, 3 de janeiro de 2019
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