Em entrevista à coluna Roda Viva, de Benedito Buzar, o deputado federal Zé Reinaldo Tavares fala sobre o rompimento com Flávio Dino, faz críticas ao governo e prevê segundo turno para as eleições de outubro
Eu [Benedito Buzar] e José Reinaldo somos de uma mesma geração, fato que nos faz manter um relacionamento cordial e fraterno. Durante bom tempo, marcamos presença no mesmo grupo político, do qual ele se afastou por desentendimento com o sarneísmo, onde nasceu, cresceu e se projetou como técnico competente e ocupou cargos importantes na vida pública, ora em atividades executivas, ora no exercício de mandatos legislativos.
Por causa desse malfadado desentendimento, chegamos, em dado momento, a nos distanciarmos um do outro, mas sem deixar que o nosso relacionamento pessoal fosse por águas abaixo, até porque, desde a mocidade, temos amigos comuns como Mauro e Miguel Fecury, Jaime Santana, Aziz Tajra, Márcio Viana Pereira e Claudio (Alemão) Vaz dos Santos.
Em nome dessa afinidade, tomei a iniciativa de encaminhar a ele um questionário com dez perguntas sobre o atual momento político maranhense, em que literalmente mergulhou e desenvolve intensa atividade.
Em tão poucas vezes, vi Zé Reinaldo movimentar-se na cena política com tanto desembaraço como agora. Tudo isso pela luta que trava para disputar o cargo de senador, projeto que imaginava concorrer com o apoio do governador Flávio Dino, que, se por um lado, não deu certo e o deixou magoado, por outro lado, deu-lhe forças para reagir e partir para liderar um movimento político bem mais amplo e com o objetivo não apenas de se eleger ao Senado da República, mas direcionado, também, para uma tomada de poder.
Para o leitor e o eleitor saberem o que pensa José Reinaldo e o que vem fazendo para o pleito vindouro ser decidido no segundo turno, nada melhor do que o texto abaixo.
1-O seu rompimento político com o governador é para valer ou é encenação?
JR-Eu fiz parte de um projeto político que começou em 2006 e Flávio Dino veio, na ocasião, me pedir que eu o ajudasse a ser deputado federal. Eu achei que seria bom para a política trazer quadros novos com um perfil como o dele, e o ajudei. E ele acabou eleito governador. E eu procurei sempre ajudá-lo, com a experiência adquirida no exercício do governo por cinco anos aproximadamente. Mas, a política nada mais é que uma extraordinária arte de relacionamento humano, de muita conversa e muito diálogo visando um entendimento e até um compromisso e não encontrei isso no governo de Flávio Dino, e as conversas foram escasseando, até chegarmos a completa falta de diálogo pessoal sem o qual não há entendimento. E tudo piorou nos últimos seis meses em que me senti várias vezes desrespeitado, até chegarmos a um ponto que levou ao rompimento político. Eu só tenho um bem que me sustenta na política: é a minha palavra. Hoje não tenho a menor possibilidade de voltar a apoiá-lo de novo. Perdi a confiança no governador.
2-Chegou a admitir alguma vez que o governador poderia lançá-lo candidato a senador?
JR-Sim. Ainda no primeiro ano do governo, o governador nos convidou, com mais alguns políticos, para uma espécie de conselho político e nos ofereceu um almoço. Essa foi a primeira e última reunião desse chamado conselho. E eu, no encerramento do almoço, falei a ele de meu desejo, tantas vezes adiado, de ser candidato ao senado. Ele disse claro, ninguém merece mais que você. E eu, repetindo o próprio Flávio na conversa que teve comigo onde pediu minha ajuda para ser político, disse que para isso contava com o apoio dele à minha candidatura e ele foi muito gentil e garantiu apoio total a mim. Nessa ocasião e durante os primeiros anos do governo acreditei, sim. Mas, de um ano para cá, as coisas mudaram, principalmente, nos últimos seis meses, por isso, deixei de acreditar.
3-Admite que o governador possa mudar de posição e resolva indicá-lo ao Senado? No caso dessa hipótese acontecer você recuaria e marcharia com ele no processo eleitoral deste ano?
JR- De maneira nenhuma. Não existe mais relação de confiança entre nós que permitisse isso.
4-Em não sendo José Reinaldo o candidato a senador, quem seria a segunda opção dele ao Senado?
JR-Não faço a mínima ideia de quem poderia ser. Não acredito que o governador possa eleger qualquer um ao senado, tirando um nome do bolso do colete. Perdeu, no decorrer do mandato, essa condição.
5-Concorda ou não com a declaração do governador de que “aqueles que optam por outra forma de governar, por outro governo, estão optando, na verdade, por aquilo que foi derrotado nas urnas, que é o modelo do passado?”
JR-O governador é reconhecidamente muito inteligente e bem preparado intelectualmente. O que ele quer com isso é o melhor dos mundos na política: ser governo, que ele é na verdade e ser oposição ao mesmo tempo apontando o dedo para os adversários, novos ou velhos, acusando-os de ser parte de um passado que só atrasou o Maranhão e que enfim, ele, veio salvar o povo do Maranhão.
Mas como explicar que no seu governo o número de famílias que vive do Bolsa Família é mais da metade das famílias do Maranhão, e esse número continua aumentando e que o IBGE acabou de publicar os dados da renda familiar mensal per capita, ou seja a soma de todos os rendimentos recebidos por todas as pessoas que moram na mesma casa por mês, incluindo salários, aposentadorias, aluguéis, Bolsa Família, tudo, dividida pelo número de pessoas que ali vivem e, esse valor, expressa de maneira inquestionável, a nossa tragédia maior pois a renda mensal per capita das famílias maranhenses em 2017 só chegava a 597 reais, a pior do Brasil enquanto Alagoas tinha 658 reais, Pará 715 reais e, nosso vizinho e sofrido Piauí 750 reais, ou seja, 153 reais a mais que as do Maranhão. E Alagoas e o Piauí sempre ficaram atrás de nós. E olhem que o salário mínimo valia 937 reais, portanto as famílias maranhenses vivem, per capita, em cada casa, com quase a metade de um salário mínimo mensal.
Ele usa o jogo eterno da política, do bem contra o mal, ou seja, ele, (Flávio) é o Bem e nós, todos os demais, o Mal.
Mas, isso não exime ninguém da responsabilidade, todos que passamos pelo governo, da responsabilidade pela pobreza do Maranhão. Nem um grupo político, sozinho, é responsável por isso. Somos, então, todos nós, que tentamos, mas não conseguimos formular um projeto que atuasse vigorosamente nas causas primárias formadoras da pobreza e corrigisse o problema. Ninguém é culpado sozinho. Somos todos. Mas eu e um grupo de amigos muito preparados estamos nos dedicando ao assunto, com o conhecimento que temos hoje da realidade do Maranhão e do Nordeste, e com ajuda de especialistas do exterior e vamos oferecer uma solução para o problema que desafia a todos.
6-O rompimento com Flávio pode levá-lo novamente na direção do Grupo Sarney?
JR-Eu trabalhei no governo Sarney no começo da minha vida profissional e ali fiz grande parte da minha carreira política e aprendi a ter por ele um profundo respeito. Depois trabalhei com ele quando exerceu a Presidência da República e vi o enorme talento e desprendimento para conduzir a dificílima transição política com grande competência o que pacificou o país e permitiu termos um regime democrático forte e consolidado com instituições muito forte como sobejamente demonstrado. Depois episódios da política nos separaram, mas, eu tenho por ele respeito, estima muita consideração. Creio mesmo que não usar a sempre demonstrada força do ex-presidente no governo federal em favor de ajudar a encontrar as soluções de problemas profundos que perseguem o Maranhão é um desperdício, que nenhum outro estado se permitiria ter. Mas, não voltarei ao grupo Sarney. Nessas eleições vou apoiar Eduardo Braide, para governador. Acredito muito nele, um jovem e promissor talento que desponta na política do Maranhão, com muito futuro.
7-Acha possível a formação de uma terceira força para enfrentar com sucesso a candidatura de Flávio Dino ao governo?
JR- Sim, acredito, na terceira via, pois temos Braide, Roberto, Maura, Ricardo, entre outros, uma realidade muito importante na política do Maranhão.
8-Admite a possibilidade de Roberto Rocha abdicar de sua candidatura a governador para apoiar a do deputado Eduardo Braide?
JR- Só quem pode fazer essa avaliação é o senador Roberto Rocha, baseado em sua vasta experiência na política. Só ele pode tomar essa decisão analisando se esse é o seu momento para ser candidato a governador. Mas, acho que isso, hoje, não está em cogitação por ele. De qualquer jeito ele é muito importante nesse momento.
9-Acha que a eleição para o governo do estado será decidida em primeiro turno?
JR- Não acredito nisso de maneira nenhuma. A eleição será muito polarizada e certamente teremos um segundo turno para definir quem será o governador.
10-Admite a hipótese de uma composição, no segundo turno, das forças políticas que concorrem separadas, no primeiro turno, contra o governador Flávio Dino?
JR- Eu acredito fortemente nisso. Não vejo a menor dificuldade, pois quase todos estavam juntos com Flávio na sua eleição e depois saíram levando ressentimentos contra o governador. Creio que nesse momento haverá uma grande aglutinação em torno da candidatura do adversário do governador no segundo turno. Quem for para o segundo turno contra o governador tem enorme chance de chegar vitorioso ao final.
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