Não são poucos os encrencados ou simplesmente citados em delações da lava jato que pedem aos seus advogados, leio, para quem deem um jeito de tirá-los da jurisdição de Curitiba.
Melhor dizendo, de Sergio Moro, o protótipo do Juiz que, nos interrogatórios, não se altera por nada, trata respeitosamente o acusado num tom de voz suave lembrando cantiga de ninar.
Consta que até antes de estar cara a cara com o temível juiz, tudo o que o Lula pedia aos seus advogados era para não ser levado para depor perante o Moro em Curitiba.
O medo de Lula de ser preso durante ou após a audiência foi tamanho que a militância petista trazida de ônibus do interior paranaense e de outros Estados, inclusive Minas, não arredou de uma praça próxima ao fórum, mesmo com chuva caindo.
Antes do encontro marcado com Moro, Lula chegou à praça escoltado por alguns deputados e senadores petistas, subiu ao palanque, discursou à vontade e depois num cotejo rápido seguiu a pé para o seu compromisso.
Quem viu a postura, ora querendo dissimular o medo, ora querendo mostrar firmeza de modo a parecer verdadeiro, não tinha porque concluir que o Presidente mais popular da história, mais do que o grande Getúlio, pai dos pobres e mãe dos ricos, sairia dali preso.
Hoje o Lula, denotando até um certo carinho, trata o Juiz Moro e os Procuradores da Lava Jato como “os meninos de Curitiba”.
Quem parece ainda estar medrando é o PT que, por sua jovem e tarrabufada nova Presidente, esbraveja que o seu partido só aceita para o Lula a absolvição absoluta, total.
Isso é medo generalizado que nem o do poeta que morria de medo não só de que chegasse a hora de entrar no avião, mas também de abrir a porta que daria pro sertão da sua solidão. (Belchior, Pequeno mapa do tempo, in Coração Selvagem, 1977).
Quem quando criança não ouviu a canção sobre o lobo mau que pegava criancinha pra fazer mingau? Sacanagem do Braguinha, nosso popular João de Barro, autor dos versos que não lhe deram só fama. Também muito dinheiro.
O medo é uma maldade dos adultos que o inoculam nas crianças limitando-as desde cedo em suas iniciativas. Medo não é o receio, este sim, com carga de responsabilidade.
Medo é o que encurrala e manipula as sociedades contemporâneas sob manipuladores de extremistas da esquerda e da direita. (Ver Bauman, “Em busca da política”, Zahar, SP, 2014).
O lobo mau sempre fazendo-se passar pela Chapeuzinho ao mesmo tempo sempre a fim da vovozinha mexeu tanto com a cabeça de Edward Albee (1928-2016), quando criança, que já crescido, determinado a ser escritor, revelou-se um dos mais talentosos teatrólogos de sua geração nos anos 1960.
Misto de Millôr Fernandes com William Shakespeare, Albee estreou com a História do Zoológico em que dois personagens se encontram casualmente. A conversa descamba para a solidão. Toda e qualquer solidão.
A catarse do medo infantil do lobo mau se realizou com “Quem tem medo de Virginia Wolf?”. Aquele título, de saída, chamou a atenção para a obra da escritora inglesa, até então restrita a pequenas elites intelectuais e maldita pelos conservadores pelas questões que suscitava.
Nessa de dar títulos sem nada a ver com o texto o Augusto Blum, meu colega de faculdade, escreveu sua peça nunca encenada – “A redenção dos vuuupts ou quem tem medo de Silvia Teresa?”.
Agora, depois que na segunda instancia, uma sentença do Juiz Morto foi reformada – porque delação por si não vale como prova, e isso está na lei nº 12.850/13, Art. 4º, Parágrafo 16, que ordena assim - “nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de agente colaborador”. Ou seja, o delator.
Não há sentença terminativa no primeiro grau. Quem é o Juiz que não sabe disso? Mas errare humanum est...
O absolvido no segundo grau foi ninguém mais nem menos que um certo senhor Vacari, tesoureiro do PT.
(Edson Vidigal, Advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal)
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