O senador Roberto Rocha (PSB) concedeu uma entrevista ao jornal Pequeno e foi publicada na edição deste domingo (06). O socialista lamenta que o Governo Flávio Dino ainda não tenha avançado em novas políticas que alavanquem o desenvolvimento do estado, ainda na entrevista ele avaliar o resultado das eleições deste ano.
Confira abaixo a íntegra da entrevista:
Que análise o sr. faz
dos resultados da eleição, no plano nacional?
Não tenho lembrança de nenhuma eleição que tenha provocado
uma maior reacomodação das forças políticas nacionais, em tempos democráticos.
Para ficarmos no exemplo mais dramático, o PT, que foi o partido que mais
cresceu na última década, teve nestas eleições menos votos que o PSB ou o PDT,
que são forças médias. Temos, portanto um desenho de forças políticas
completamente novas, que se projeta para as eleições de 2018.
E quem saiu ganhando
com esse novo desenho?
Partidariamente, é claro, foi o PSDB. Ele sozinho conquistou
quase 18% dos votos apurados nas urnas em todo o Brasil. Pra dar uma ideia do
que isso significa, foi mais que o triplo dos votos obtidos pelo PT.
Do ponto de vista de liderança pessoal o maior vitorioso foi
o governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, que se fortaleceu como o candidato
natural do partido para disputar a Presidência da República, em 2018.
Mas terá que enfrentar
outros nomes fortes do partido, não?
Sim, é verdade, mas nenhum deles reúne hoje o capital
eleitoral do Geraldo e uma base de lançamento com a potência do Governo de São
Paulo. Vale dizer que o PSB foi o principal parceiro nesse projeto, pois é o fiador da governança no Estado, pelas
mãos do vice-governador Marcio França.
Então PSB e PSDB devem
estar juntos em 2018?
É o caminho natural da lógica política. Aliás, já foi o
caminho trilhado pelo partido após a morte de Eduardo Campos, quando o PSB se
engajou no segundo turno na candidatura de Aécio Neves.
E qual o efeito dessas
novas configurações na eleição de 2018?
Em 2018, para presidente, a tendência é termos muitas
candidaturas no primeiro turno, mas as forças políticas devem convergir para
uma disputa no segundo turno entre basicamente duas forças: de um lado o PSDB e
o PSB, em torno do governador Geraldo Alckmin, e do outro as forças da chamada
esquerda que devem buscar uma renovação numa candidatura como a de Ciro Gomes,
que poderá reunir, além do PDT, o PT, o PCdoB e um ou outro partido médio.
E no plano municipal e
estadual, qual o efeito dessas novas configurações?
No municipal, o efeito já aconteceu nesta eleição. Todos
sabem que o governador apostava suas fichas na candidatura do deputado estadual
Bira do Pindaré, por não acreditar na capacidade de regeneração da
administração do prefeito Edivaldo Holanda Jr. Mas o PSB nacional entendeu que
o partido não poderia ser usado como saída de emergência do projeto do
Governador, e eu mesmo tive que agir politicamente para garantir que o PSB
correria em raia própria, mesmo com mínimas chances eleitorais. E o resultado
nós vimos, o prefeito teve que desmontar o puxadinho do Palácio, pelo menos até
o momento em que o próprio governador resolveu pular no bonde andando, quando
as pesquisas apontaram a vitória do prefeito.
Vamos ver se na recomposição do secretariado do Prefeito vai prevalecer
o Edivaldo que falou grosso no debate do segundo turno ou aquele que
administrou o puxadinho, com voz mansa e cordata.
Já no plano estadual, o primeiro efeito será quebrar o
espectro de alianças que elegeu o governador Flavio Dino em 2014. Naquela ocasião o Maranhão vivia uma
circunstância de ruptura com um modelo político exausto e a realidade regional
se sobrepôs à realidade nacional. Em condições normais, em 2018, isso não se
repetirá. Uma aliança entre PC do B e PSDB, como aconteceu em 2014, seria algo
teratológico.
E quais as forças que
poderão se contrapor aqui ao grupo do governador?
Em razão da gravitação do campo nacional, é claro que o PSDB,
assim como o PSB deverão compor um projeto diferente. Talvez o PMDB lidere uma
terceira força e aí vem os partidos médios e pequenos que a circunstância
política do momento deve determinar para onde pendem.
O seu nome pode liderar
essa corrente de oposição?
Nós temos aqui no Maranhão uma tradição, alimentada pela
mídia, de visualizar a política como uma disputa pessoal, uma briga de
personalidades. É como se as afinidades pessoais ou as amizades determinassem
as escolhas políticas. Nada mais falso. A disputa deve se dar por visões de
mundo e capacidade de construir maiorias para formular um projeto para o
Estado. Por enquanto não estão dadas as condições para a discussão de nomes,
mas à medida que o Governo vai demarcando seu campo de atuação é possível
identificar, na sociedade, expressões de desconforto com os rumos que vem sendo
tomados.
Por exemplo?
O que eu vislumbro de mais grave é a ausência de um projeto
generoso e ousado que formule uma inflexão no rumo de desenvolvimento do
Estado. Pensar grande, projetar para o futuro um Maranhão que é possível
construir a partir do que alcançamos nas últimas décadas.
Vejo com tristeza um Governo paralisado por interdições
ideológicas, avesso ao capital privado e ao empreendedorismo do seu povo. Na
origem, há boas intenções, mas a crença de fundo é de que apenas as ampliações
de ganhos sociais e da consciência do povo é capaz de conduzir o Estado para um
outro plano de conquistas. Por mais meritório que seja, essa agenda choca-se
com a realidade e a experiência que nos mostra que somente o desenvolvimento
das forças de produção pode alavancar a sociedade para um outro patamar de
progresso civilizacional.
E o que o sr. tem a
oferecer em contraste?
Os estados que mais cresceram no Brasil, nos últimos anos,
como o Ceará ou o Tocantins, assim como o Piauí, partiram de uma base mínima de
consenso da classe política para alavancar os seus indicadores educacionais, a
partir de uma vigorosa ação política em favor da atração de capital e
indústrias. O Ceará e o Piauí, comparados ao Maranhão, são quase inviáveis,
pela pobreza de biomas e de recursos hídricos. No entanto nos ultrapassaram em
todos os indicadores.
Veja que as eleições nesses estados não são marcadas por
diferenças pessoais que transformam a disputa em verdadeiro pugilato retórico.
São disputas de projetos. Mesmo a esquerda no Ceará, por exemplo, ainda que crítica,
não nega o que foi plantado desde o governo Tasso Jereissati, que deu início à
transformação do Estado.
Aqui no Maranhão, veja a que estamos reduzidos: uma gincana
em que se discute quem asfaltou mais ruas nos municípios, quem inaugurou mais
praças. Somos incapazes de estabelecer um consenso sobre a óbvia vantagem
comparativa do Maranhão, em função da sua posição geográfica e das
potencialidades do Complexo Portuário do Itaqui.
Nós somos o Estado capaz de viabilizar toda a produção
agropecuária do Centro-oeste, a maior fronteira agrícola do planeta, e estamos
discutindo o varejo da política. Está nas nossas mãos construir um futuro de
possibilidades grandiosas, mas continuamos agindo como se o futuro viesse por
inércia, por gravidade.
Recentemente eu formulei um projeto de criação de uma Zona de
Exportação do Maranhão, criando um novo regime chamado exclave aduaneiro, capaz
de transformar a Ilha de São Luis em um hub mundial de produtos. Tive apoio no
meio empresarial, na FIEMA, em nichos universitários, mas a rede institucional
do Governo mostrou-se impermeável a discutir a ideia, sem ao menos contrapor
outra em seu lugar. É nesse cenário, de arrogância ideológica, que surgem
correntes capazes de formular um projeto para o Maranhão que seja mais plural e
mais sintonizado com as demandas de nosso tempo.
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