Ministério Público questiona
origem de R$ 426 mil gastos por Waldir Maranhão em campanha e apura se dinheiro
saiu da Lava Jato
O Estadão - Apontado pelo doleiro Alberto
Youssef um dos alvos centrais da Operação Lava Jato como beneficiário do
esquema de corrupção na Petrobrás, o deputado Waldir Maranhão (PPMA), vice-presidente
da Câmara, não consegue explicar a origem de R$ 426 mil que entraram no caixa
de sua campanha em 2010. A afirmação é do Ministério Público Federal no
processo em que pediu a cassação do mandato obtido pelo político naquele ano.
Se for condenado, ficará inelegível por oito anos.
O Ministério Público no Maranhão
disse que a inconsistência nas contas eleitorais do vice da Câmara pode ter
ligação com o esquema investigado na Lava Jato segundo os investigadores,
recursos desviados da estatal abasteceram campanhas eleitorais. Mas o órgão
ressalva que ainda não possui dados para comprovar a relação.
O Estado teve acesso à íntegra da
ação, que corre em segredo de Justiça. Os documentos mostram que o deputado foi
instado a retificar sua prestação de contas pela Justiça Eleitoral maranhense. Mesmo
após as correções, o Tribunal Regional Eleitoral decidiu reprovar suas contas e
aprovar a quebra de seus sigilos bancário e fiscal.
Maranhão diz que o dinheiro era
proveniente de recursos próprios. Mas chamou atenção das autoridades o fato de
ele ter declarado, no mesmo ano, patrimônio líquido de R$ 16,5 mil (dinheiro em
espécie), muito menos do que doou para si. Em um primeiro momento, o vice da
Câmara justificou dizendo que "esqueceu de declarar o valor em espécie de
R$ 200 mil".
Afirmou ainda que financiou sua
campanha com seu salário de deputado federal, à época fixado em R$ 16,5 mil
mensais. Em outro momento, acrescentou que contava com dinheiro da venda de sua
casa R$ 550 mil, em 4 de agosto de 2010. O valor seria recebido em três
parcelas, sendo a última para outubro daquele ano. A Justiça rejeitou as
explicações e reprovou as contas.
Divergência. O juiz José Carlos Sousa Silva, relator das contas, escreveu
que "não foi apresentada justificativa aceitável" para a divergência
dos rendimentos. "Não é razoável acreditar que tenha economizado a
totalidade de seus ganhos", diz um dos pareceres do Ministério Público
apresentados ao TRE.
Após a reprovação, foi iniciado o
processo de cassação do mandato, ainda em 2011. Nas alegações finais,
apresentadas em 9 de janeiro de 2015, o Ministério Público afirmou que a quebra
dos sigilos de Maranhão não permitiu ter
"elementos que comprovem a transação imobiliária" e os extratos bancários
"não registram movimentação financeira em quantia que justifique a
venda". A Procuradoria ainda destacou o fato de Maranhão ter omitido o
negócio de sua prestação de contas e não ter apresentado a escritura de compra
e venda.
Recursos. Diversos recursos apresentados pela defesa do político
contribuíram para retardar o julgamento. O próprio TRE afirmou, em nota enviada
à reportagem, que "há uma série de incidentes e recursos utilizados pela
defesa do parlamentar que redundaram nesse 'atraso' na prestação jurisdicional".
A demora beneficia o deputado. No
início de 2015, sua defesa pediu que a ação fosse extinta sem que a cassação
fosse apreciada pelo TRE. O argumento é que a cassação perdeu sentido, pois o
mandato questionado acabou em 31 de janeiro, um dia antes de o maranhense
assumir novo mandato (para o qual foi eleito em 2014) e ser escolhido 1.º vice-presidente
da Câmara.
O TRE e o Ministério Público no
Maranhão afirmaram que a ação precisa ser julgada mesmo com o mandato encerrado
porque, se condenado, o deputado pode ficar inelegível. Segundo o TRE, o caso deve
ir a plenário até abril. Os dois órgãos explicaram que Maranhão pôde ser
candidato em 2014 e obter um novo mandato porque a reprovação das contas de
eleições anteriores não o impede de obter a certidão de quitação eleitoral.
Em 6 de março deste ano, o
Supremo Tribunal Federal aceitou abrir inquérito para investigar Maranhão por
formação de quadrilha no âmbito da Lava Jato. Entre os políticos investigados
no Supremo, a maioria é do PP. Maranhão foi citado por Youssef como um dos
políticos de legenda "cuja posição era de menor relevância dentro do
partido e que recebiam entre R$ 30 mil e R$ 150 mil por mês".
Surpresa. O deputado Waldir Maranhão afirmou, por meio de sua assessoria
de imprensa, que as explicações que tem para dar sobre o caso são as que
constam do processo e não tem nada a acrescentar. Disse ainda ter ficado
surpreso com a inclusão de seu nome entre os políticos envolvidos na Lava Jato
e está à disposição das autoridades.
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