Trabalho da polícia,
segundo o delegado-geral Augusto Barros, terá apoio da Polícia Federal,
Ministério Público e da OAB; material em análise foi apreendido durante a
operação Detonando, que investigou a morte de Décio Sá.
Delegado-geral Augusto Barros diz que, se necessário, pedirá prisão dos envolvidos nos crimes de agiotagem |
A comissão de delegados da Polícia Civil, sob o comando do
delegado-geral Augusto Barros, começou ontem a traçar metas de trabalho para
investigar a rede de agiotagem que envolve cerca de 41 prefeituras do Maranhão,
entre elas a de São Luís. Estão sendo investigados ex-gestores municipais, empresários,
policiais e até acusados pela morte do jornalista e blogueiro Aldenísio Décio
Leite de Sá, o Décio Sá, ocorrida no dia 23 de abril de 2012. A polícia confirmou
que, durante essa etapa de processo investigativo, pode ser solicitada à
Justiça prisões dos envolvidos, apreensões de bens e bloqueios de contas
bancárias.
Serão realizadas também incursões e operações em todo o
estado. Segundo a polícia, a ação de agiotas causou um prejuízo aos cofres
públicos de dezenas de milhões de reais.
Esse inquérito policial estava engavetado desde meados de 2013
e foi retomado esta semana por determinação do secretário de Segurança Pública,
Jefferson Portela. O delegado Augusto Barros explicou que esse trabalho vai contar
com o apoio do Ministério Público Estadual, Polícia Federal e até mesmo da
Ordem dos Advogados do Brasil da seccional do Maranhão (OAB/MA). Já a comissão
é composta por três delegados, nomes não revelados, que no momento estão
dividindo o material, ou seja, os dossiês por prefeitura para poder facilitar
as investigações.
Ligação - O material é composto de talões de cheques, notas
fiscais, documentos de empresas fantasmas, comprovantes de notas de desvios de
recursos federais praticados em vários municípios, que teriam ligação com
esquema de agiotagem no estado, envolvendo prefeitos, vice-prefeitos da época e
vários políticos maranhenses. Toda a documentação foi apreendida pela Polícia Civil
no decorrer do cumprimento de mandados de busca e apreensão na Operação
Detonando, que na época investigava a morte do jornalista Décio Sá.
Augusto Barros frisou ainda que cada documento será analisado
de forma minuciosa pelos delegados para observar as lacunas a serem preenchidas
e a polícia possa trabalhar com provas condizentes e concretas. A comissão,
segundo o delegado, já estaria com os trabalhos investigativos bastante
avançados em pelo menos oito prefeituras, mas existem localidades que faltam colher
materiais mais concretos.
Foram constatadas irregularidades como recursos públicos para
movimentar contas privadas, contratação de empresas fantasmas, participação de
laranjas na contratação de funcionários para lesar o erário, entre outras.
"Estamos partindo das prefeituras em que a investigação está bem avançada
para aquelas que precisam de um trabalho mais apurado. Caso haja registro de
ameaça ou tentativa de fuga, imediatamente será solicitado o pedido de prisão,
temporária ou preventiva, dos investigados. Vale ressaltar que esses gestores
municipais são da época da morte do jornalista Décio Sá", explicou Augusto
Barros.
Esquema fraudulento - Para ele, o esquema de fraude,
descoberto após a morte do jornalista Décio Sá, ainda continua no estado. Durante
a investigação, ficou comprovado que os principais cabeças foram identificados
como os empresários Gláucio Alencar Pontes e o seu pai José Alencar Miranda,
que foram presos no dia 13 de junho de 2012.
Em poder dos criminosos, a polícia apreendeu vários
documentos, cheques e notas de empenho com nomes de prefeituras. Na época da
prisão, eles eram empresários do ramo de merenda escolar e conveniados a várias
prefeituras do interior do estado. O agiota, segundo a polícia, responsável
pelas negociatas com as prefeituras era Gláucio Alencar, que emprestava um
valor bem alto para financiar as campanhas eleitorais. Além do dinheiro a
receber, ele ficava como fornecedor de merenda escolar, material escolar, na
maioria das vezes de péssima qualidade, e de material hospitalar às prefeituras
por um período superior a 2 anos.
Também foi descoberta a prática de pistolagem, segundo Augusto
Barros, quando os prefeitos atrasavam o pagamento ou rejeitavam pagar o valor exorbitante
aos criminosos. Esses são geralmente policiais, ex-policiais, e até mesmo
foragidos da Justiça, inclusive de outros estados. A cobrança era feita dentro
da Prefeitura ou na residência dos gestores. "A prática de agiotagem
permanece no estado, mas estamos combatendo esse vício, que acaba deixando o
gestor público nas mãos de uma classe de alto poder econômico", afirmou o
delegado geral da Polícia Civil.
Fique sabendo - Durante o trabalho investigativo feito pela
comissão de delegados da Polícia Civil, Guilherme Sousa Filho, Roberto Wagner
Leite e Wang Chao Jeen, houve um depoimento que comprometia a deputada estadual
Gardênia Gonçalves (PSDB), filha do ex-prefeito da capital João Castelo. O depoimento
foi feito por Patrícia Gracielli Martins, viúva do também agiota Fábio Brasil,
assassinado em Teresina, no Piauí, pelo mesmo pistoleiro de aluguel que
eliminou o jornalista Décio Sá. Patrícia disse que Gardênia tinha negócios com
Gláucio. Também houve indícios do delegado da Polícia Federal, Pedro Meireles,
de ter uma possível ligação com os empresários Gláucio e José Alencar. Nessa época,
o delegado ficou conhecido no estado pela sua forte atuação no combate ao crime
organizado em diversas prefeituras maranhenses envolvidas com o desvio de
verbas públicas, durante as operações Rapina I e II, realizadas em 2008. (O Estado)
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