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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Artigo do Edson Vidigal: Bolota

Seja a terra redonda, como constatou Galileu, ou o mundo um moinho, como cantou Cartola, certo também é que já somamos quase 10 (dez) bilhões de bocas precisando comer todo dia.

Alcança a 01 (um) bilhão o número dos que estão fora da segurança alimentar, ou seja, dos que não tem o que comer.

Quando você chegar ao ponto final do que estou escrevendo agora e se até lá, vamos supor, tiver consumido no máximo 05 (cinco minutos), 40 (quarenta) pessoas terão morrido de fome em alguns lugares do mundo.

A certeza é que uma pessoa morre de fome a cada 03 (três) segundos. Enquanto o mundo contabiliza 01 (um) bilhão de famintos, o nosso Brasil ainda convive com a vergonha de contar 39 (trinta e nove) milhões de pessoas passando fome.

Há quem jure de pés juntos que o Maranhão não se insere nessa cifra milionária de tanta fome. O que dizem as estatísticas, garante, são calúnias. Entendi.

A fome é a mais humilhante das privações humanas. Só quem  a conheceu pessoalmente, sentindo-a raspar-lhe nas paredes do estômago, sem ter como arredá-la e com dignidade para não esmolar a comida,  pode avaliar o sofrimento de quem morre aos poucos à falta do que comer.

A fome convoca o desalento, entorpece a esperança. Humilha.

A produção de alimentos hoje no mundo não segue na proporção o crescimento demográfico. Estima-se que na metade deste século o mundo contará com 10 (dez) bilhões de pessoas e a grande pergunta, a que mais grita hoje, é onde haverá comida para tanta gente.

Sem proteínas, sem vitaminas, sem sais minerais, sem água, sem o oxigênio do ar puro, não é possível viver.

Quando passaram a tirar leite da soja, levaram uma vaca mecânica ao Palácio do Planalto para o Presidente, na época o General Figueiredo, fazer a ordenha inaugural. A proposta era servir o leite de soja na merenda escolar. Você não imagina a cara de horror do Presidente ao primeiro gole.

Um litro de leite de soja hoje custa mais do dobro de um litro de leite de vaca. As plantações de soja incrementam os negócios e desembestam os navios levando proteínas aos chineses.

Mas se de um lado temos nesse cenário deprimente 01 (um) bilhão de famintos, por outro temos pedaços do mundo como o Japão em que a fome, em comparação com o resto, sobrepaira ínfima.

O Japão é hoje o País onde há menos jovens no mundo. Na faixa até os 15 (quinze) anos de idade, eles são apenas 13,6% (treze vírgula seis por cento). Acima dos 65 (sessenta e cinco) anos, 21% (vinte e um por cento).

Mais de 500 (quinhentos) mil japoneses tem mais de 100 (cem) anos de idade.

No Japão as pessoas trabalham muito. E estudam bastante. As estatísticas dizem que a população está diminuindo.

A propósito de despesas públicas com a saúde dos idosos, partiu do Ministro da Economia do Japão, senhor Taro Aso, a seguinte proposta:

- Deus me livre de ser forçado a viver se quisesse morrer. Eu acordaria me sentindo a cada dia pior sabendo que o meu tratamento foi pago pelo governo. O problema não será resolvido, a menos que você os deixe se apressar e morrerem.

Precedente muito perigoso, digo eu. Em especial se invocado aqui no Maranhão.

(Por Edson Vidigal é advogado, ex-vereador de Caxias, ex-deputado federal, professor e ministro aposentado do STJ)

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