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terça-feira, 14 de outubro de 2014

“A campanha mostrou Flávio Dino como ele realmente é,” diz marqueteiro


Coberlinni conduziu as duas campanhas
de governador de Flávio Dino
Trabalhando com Flávio Dino desde as eleições de 2010, o cientista político Juliano Corbellini concede entrevista para fazer um saldo das eleições que levaram à vitória de Flávio Dino com 63,52% dos votos maranhenses.

Doutor em Ciência Política, Corbellini acredita que a classe política tradicional do Maranhão não entendeu que a evolução da opinião crítica da população. E detalha os principais momentos que levaram ao fim do tabu de que os “Leões” do Palácio sempre vencem as eleições. Dino venceu a disputa sem apoio dos governos Estadual e Federal, numa ampla aliança que uniu as oposições no estado.

Você participou das campanhas de 2010 e 2014 no Maranhão. O que demarcou a diferença entre as duas?

A vitória de Flávio Dino foi construída em 2010. Naquela eleição, ele se firmou como o novo líder da oposição no Maranhão a partir de um novo discurso. Ao invés de ter a “libertação do Estado” como centro da mensagem, chamamos a atenção para o paradoxo entre o Estado rico e o povo pobre. Um discurso otimista sobre o Estado e uma nova visão de futuro. Sabíamos que existiam eleitores fora da polarização “Sarney x Anti-Sarney”, que se preocupavam com o futuro e não com o passado. Cativamos eles, e em 2014 agregamos os eleitores tradicionais da oposição Jackista e inclusive um contingente de eleitores que um dia votaram com o grupo Sarney. É só fazer uma conta simples, nunca a oposição chegou a 64%. Chegamos nesse patamar porque também soubemos dialogar com esses eleitores “ex-Sarney”. Nosso sucesso em 2014 deveu-se ao posicionamento novo que construímos em 2010. Flávio não é o anti-Sarney, ele é o símbolo da era pós-Sarney.

Ao fim do período eleitoral, qual o saldo de imagem da campanha ficará para Flávio Dino? Que implicações isso traz para o próximo governador?

Flávio Dino é um político com extrema capacidade de liderança, competência, próximo das pessoas, indignado com as injustiças. A campanha mostrou Flávio como ele efetivamente é, a sua essência. Uma de nossas vantagens nessa campanha é que não era preciso maquiar nada, era preciso só contar a verdade. Até a fé cristã de Flávio, que especularam ser uma “jogada de marketing”, é absolutamente profunda. Quem convive com ele sabe disso. E ela que estrutura os valores de sua visão de mundo. Como governador, o seu desafio é continuar sendo exatamente o que ele é, e o que apresentou na campanha. Não tenho dúvida que o será.

Qual foi a maior preocupação da comunicação de Flávio Dino ao longo do pleito?

Estrategicamente tínhamos a pauta dos 50 anos como a grande questão da eleição, fazer os eleitores conhecerem Flávio Dino e marcar com clareza a nossa agenda de propostas. A crítica deveria ser feita num tom emotivo e alegre. Peças como a “carta aos maranhenses”, o comercial “torcidas”, e o “monarquia” (aquela em um mordomo sai pelas ruas “coroando” o povo) foram construções magistrais da nossa competente equipe de criação, são marcos no marketing político. Nosso desafio era fazer uma campanha à altura da liderança e do sentimento que emanava em torno do Flávio. Atravessar uma campanha inteira mantendo uma intenção de votos altíssima como a de Flávio Dino é muito difícil. Mas conseguimos.

Noticiário ligado à família Sarney teceu, durante a campanha, várias críticas à estratégia de comunicação de Fávio Dino, chegando a apontar crises internas. Isso existiu?

Demos muitas risadas nesse dia. Dizer que havia estratégia errada e crise na campanha com 30 pontos de vantagem foi uma piada. Será que eles acreditam no que escrevem? Muitos analistas ligados ao grupo Sarney, ou as fontes dessas fofocas, não entenderam nada do que aconteceu até agora. Disseram que o “ponto fraco” do Flávio era a sua presença no vídeo, quando isso era um ponto alto do programa. Flávio só transmitia sensações boas, uma das mais fortes era a humildade de ir a casa das pessoas e conversar. Os programas do Lobão Filho que eles mais elogiavam, aqueles que atacavam as Prefeituras ou xingavam o Flávio de todos os adjetivos possíveis, foram justamente os que cristalizaram a sua rejeição e sepultaram suas chances de crescer um pouco. Sem falar nas análises de pesquisas: o Flávio estava sempre em “viés de baixa” e o Lobão próximo do “empate técnico”. Esses “prognósticos” não se confirmaram.

Mas não existe nenhuma campanha eleitoral sem crise. Qual foi o maior problema enfrentado pela campanha dinista em 2014?

Na comunicação não tivemos nenhuma crise. Quando depois de dez dias de TV vimos que Flávio tinha crescido, e que Lobão estava estagnado e com rejeição em alta, sabíamos que a estratégia estava aprumada, no rumo certo. Além disso, na rua sentíamos que os 60% do Flávio eram reais, não eram uma “bolha” ou algo assim. Tivemos preocupações, isso sim, principalmente que acabassem fabricando um novo “Reis Pacheco”. O nosso dia mais tenso foi quando surgiu aquela montagem bizarra, do vídeo com um presidiário acusando o Flávio de ser chefe de quadrilha de assalto a banco. Um verdadeiro absurdo. Eu conto aqui no Rio Grande do Sul e ninguém acredita nessa sandice. Mas soubemos enfrentar bem o fato, no campo político, jurídico e na comunicação.

Na sua avaliação, o império dos Sarney chegou ao fim?

O grupo Sarney como força política continua existindo, claro. Vai se articular, disputar novas eleições. Mas a era Sarney acabou no sentido do amadurecimento político do eleitor maranhense. Essa era aliás já havia acabado antes da campanha em razão de um amadurecimento da sociedade, e também por isso vencemos a eleição. A elite política tradicional do Maranhão não percebeu que o eleitor maranhense mudou, tem mais discernimento político, não acredita em qualquer coisa, tem mais opinião. Achavam que na hora da eleição iam inventar alguma mentira, criar propostas mirabolantes, comprar votos e a vantagem de Flávio seria desfeita. O Maranhão não é mais assim. As nossas pesquisas no interior, com pessoas humildes, mostraram um eleitor muito politizado, sabia quem era quem e o que estava em jogo. Jamais iria acreditar por exemplo que o Lobão Filho não fazia parte do grupo Sarney.

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