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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Critério da Folha no Maranhão não vale para São Paulo

Brasil 247 - Jornal de Otávio Frias Filho que, há uma semana, defendia intervenção federal no Maranhão, após uma menina ser morta em razão de um ataque criminoso a um ônibus, demonstra confiança no governo de São Paulo, onde policiais são suspeitos de matar 12 pessoas em Campinas, uma das cidades mais prósperas do País; editorial não menciona a palavra intervenção.

Há uma semana, um editorial da Folha de S. Paulo defendia a intervenção federal no Maranhão, após a morte da menina Ana Clara, vítima de um ataque criminoso a um ônibus em São Luís. Para justificar a medida extrema, a Folha também se valeu de um vídeo, divulgado por ela própria, com imagens de barbárie no presídio de Pedrinhas. "Não por acaso ganha adeptos a ideia de que o Estado deveria sofrer intervenção federal, prevista na Constituição, entre outras hipóteses, a fim de garantir a observância dos direitos humanos --dependendo, neste caso, de manifestação do Supremo Tribunal Federal", dizia o texto (leia aqui).

Nesta quinta-feira, a Folha volta a abordar o tema da segurança pública em seu editorial principal. Mas aborda São Paulo – e não o Maranhão – onde, em Campinas, 12 pessoas foram mortas presumivelmente por policiais. Neste caso, não se usa a palavra intervenção e o jornal demonstra plena confiança na capacidade do governo estadual, de Geraldo Alckmin, de colocar ordem na Polícia Militar. "O governador Geraldo Alckmin (PSDB) e seu secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, parecem dispostos a acompanhar pessoalmente as investigações, garantindo profundidade, isenção e celeridade. É bom que assim o façam. A questão é grave demais para ficar a cargo apenas dos oficiais a eles subordinados", diz o texto.

Leia, abaixo, o editorial desta quinta:

Chacinas em Campinas

Cabe ao governador Alckmin e ao secretário da Segurança agir para restabelecer o mais depressa possível a confiança na Polícia Militar paulista

Num espaço de cerca de três horas, a região oeste da cidade de Campinas presenciou as mortes a tiros de 12 homens que tinham entre 17 e 30 anos. O número equivale à média mensal de assassinatos na cidade durante o ano passado.

Em dois locais houve verdadeiras chacinas, com quatro mortos num caso e cinco no outro. De acordo com os relatos, homens encapuzados desceram de seus veículos e mataram os jovens com tiros na cabeça e no tórax, ao estilo dos grupos de extermínio.

A violência incomum dos episódios já bastaria para suscitar inquietação. Ainda pior, há uma razão adicional para preocupação: os principais suspeitos dos crimes são policiais militares. Ou seja, agentes do Estado cuja atribuição é zelar pela segurança pública.

A hipótese foi ventilada não só por familiares das vítimas, mas também pela Polícia Civil --que ressalva não descartar outras motivações, como disputas entre quadrilhas-- e, de forma reservada, pela Secretaria da Segurança Pública.

Segundo essa linha de investigação, um grupo de policiais militares teria cometido os homicídios no intuito de vingar a morte de um colega, assassinado horas antes ao reagir a um assalto.

Nada está provado, e os indícios a apontar na direção da PM são apenas circunstanciais, por ora. Mas a convicção de que agentes de segurança estariam por trás dos homicídios em série se espalhou rapidamente. Como reação, moradores da região bloquearam um terminal de ônibus, incendiaram três coletivos e depredaram outros seis veículos.

É um sintoma grave da perda de confiança de parte da população no poder público, identificado como responsável pela prestação de serviços --como os transportes coletivos-- sempre tão deficientes. Pelo menos um parente das vítimas falou em "declaração de guerra" contra a Polícia Militar.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) e seu secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, parecem dispostos a acompanhar pessoalmente as investigações, garantindo profundidade, isenção e celeridade. É bom que assim o façam. A questão é grave demais para ficar a cargo apenas dos oficiais a eles subordinados.

Como disse o secretário, entre os cerca de 90 mil homens que compõem a PM, é possível que "algumas pessoas tenham se desviado".

Mesmo que as atrocidades tenham de fato sido cometidas por esses policiais desencaminhados --o que, repita-se, está por ser provado--, somente uma apuração rápida afastará a desconfiança que ameaça contaminar a corporação e dificultar ainda mais sua missão de garantir a segurança pública.

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